MONOGRAFIA: PAZ NA ESCOLA: UMA ALTERNATIVA QUE DEU CERTO POR FABRICIA DILLEM E REZENDE JOSIANE TEDESCO

Publicado: 11 de Outubro de 2006

PAZ NA ESCOLA: UMA ALTERNATIVA QUE DEU CERTO

Monografia apresentada ao Centro Capixaba de Ensino Superior Novo Milênio, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia.
 


RESUMO
O tema a seguir tem como objetivo apresentar que é possível a construção o de uma cultura de paz no interior do ambiente escolar.
As escolas brasileiras não escapam do fenômeno da violência, embora seja um local que deva oferecer proteção e mecanismos para a emancipação social, ela vem perdendo prestígio e valor, tornando-se um ambiente de conflitos, onde sentimentos de amor e ódio, paz e guerra se cruzam e confundem os que da escola precisam.
A pesquisa a seguir vem mostrar ao leitor como é possível transformar e modificar o atual cenário educacional brasileiro que é fortemente marcado por atos de vandalismo e agressividade. Transformar os atos de violência, em atitudes positivas e resgatar valores éticos e morais são pontos chaves para consolidação do projeto Colorir, que é desenvolvido em uma escola pública no município de Serra – ES, por uma iniciativa privada. Foi realizado um questionário junto aos envolvidos (alunos, professores, coordenadores e pedagogos e diretor) revelando a possibilidade apontada pelo projeto.
O projeto apresenta uma proposta que transforma a violência escolar em solidariedade e respeito ao próximo, bem como, a valorização do educando dentro da perceptiva de uma educação humanística, que visa o bem estar social.

1      INTRODUÇÃO
Nos últimos anos muito se tem falado de violência, até porque esta passou a fazer parte do nosso cotidiano, o que explica o interesse em discuti-la.
A presente pesquisa tem como desafio, compreender o reflexo da violência dentro do contexto educacional, levantando hipóteses de discutir como este fato, e os membros envolvidos nesta problemática podem auxiliar no enfretamento desta questão que em nossa opinião exprime um caráter sócio, político e econômico.
Nesta perspectiva (Azevedo, 2004, p.55) analisa:
O ambiente escolar soma mais algumas à série de violências que pesa sobre a vida das crianças e jovens que freqüentam a escola pública. Muitas vezes, a escola diz-se neutra, universal e com valores próprios. Essa "neutralidade" acentua e dissemina valores estranhos àqueles que ilustram o cotidiano das crianças pobres, que vêem reprovados seus hábitos e seu jeito de falar. Ao inferiorizar os alunos pobres, a escola lhes ensina a resignação frente ao fracasso. Quando os alunos deixam à escola, expulsos pelos mecanismos de evasão, encaminham-se para a outra parte do ciclo: o trabalho mal remunerado, o subemprego, as FEBEM’s e os presídios. (AZEVEDO, 2004, p. 55)
Quase sempre, a violência não é um ato gratuito, mas, uma reação àquilo que a escola significa ou, ainda pior, àquilo que ela não consegue ser. Há  uma diferença qualitativa entre os diversos tipos de "atos de violência" que são praticadas no interior das escolas. A gravidade das situações é variável e os efeitos das providências tomadas também o são. Os envolvidos, em geral, são alunos ou jovens expulsos indiretamente através dos mecanismos de reprovação e evasão. Se entendermos que a educação é um processo de construção coletiva, contínua e permanente de formação do indivíduo, que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza, a escola é, portanto, o local privilegiado dessa formação, porque trabalha com o conhecimento, com valores, atitudes e a formação de hábitos. 
Porém, dependendo da concepção e da direção que a escola venha assumir, esta poderá ser local da não violação de direitos ou de respeito e de busca pela materialização dos direitos de todos os cidadãos, ou seja, de construção da cidadania.
Por isso, é importante que a escola se volte para estes jovens, buscando a sua reintegração na condição de alunos ou de usuários de espaços e serviços oferecidos à comunidade.  Sob esta perspectiva, surgiu-nos o desejo de realizar um estudo de um projeto denominado PROJETO COLORIR, que não contempla apenas a intenção de denunciar as atividades de violência, mas tem como objetivo principal contribuir para a diminuição dos problemas educacionais, sensibilizando alunos, não só do reconhecimento do bem público, bem como o respeito aos indivíduos considerado o maior patrimônio.
O grande desafio desta pesquisa é refletir sobre manifestações de vandalismo e violência dentro da escola pública. Pretende-se desenvolver uma visão positiva do espaço escolar, bem como a integração comunitária em todas as possibilidades que a escola lhe oferece, a fim de garantir não só sua formação enquanto cidadão, mas torná-lo crítico mediante os enfrentamentos sociais. Considerando os aspectos já apontados levantamos uma problemática: Quais possibilidades a escola possui para construir uma relação de paz?
O nosso objetivo é relacionar os comportamentos de violência que ocorrem no interior da escola e seu reflexo, além de identificar as práticas alternativas desenvolvidas pela comunidade escolar objetivando uma vida harmônica, bem como, analisar a importância de um trabalho de parceria entre escola e comunidade no processo de uma educação para paz.

2      METODOLOGIA
Pesquisa foi realizada no período de Fevereiro a Novembro de 2006 na Escola de Ensino Fundamental Serra Dourada, no município de Serra ES. O projeto COLORIR, ao qual nos dedicamos iniciou em agosto de 2003, na mesma escola e tem como responsável à pedagoga Rita de Cássia C. F. Dos Santos e o interventor pedagógico José Eugênio Castro Fernandes, dentre outros colaboradores.
A natureza de nossa pesquisa possui um caráter bibliográfico, pois "procura explicar um problema a partir de referências teóricas" e as contribuições culturais existentes sobre o fato (Cervo; 1996, p.48), pois permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos. Também é qualitativa, pois segundo Lüdke, (1986:11) “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”
Utilizamos a coleta de dados para obtermos elementos que permeiam a realidade do tema pesquisado.
Realizamos entrevistas com questionários de perguntas abertas para que pudéssemos conhecer o ponto de vista dos envolvidos. Fomos à campo para coletarmos dados referentes ao tema abordado usando a observação. Foi construído um diário de campo onde registrávamos ações que pudessem enriquecer nosso trabalho.
Ainda, Lüdke, (1986:18-20), aponta: “os estudos de caso visam à descoberta enfatizam interpretação em contexto; buscam retratar a realidade de forma completa e profunda; usam uma variedade de fontes de informação; revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas; procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista  presentes numa situação social e ... utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa.
Lüdke, (1986:21), apud Nisbet e Watt (1978) aponta,
[...] o desenvolvimento do estudo de caso se caracteriza em três fases sendo a primeira aberta ou exploratória, a segunda mais sistemática em termos de coleta de dados, e a terceira consistindo na análise e interpretação sistemática dos dados e da elaboração do relatório.  Como eles mesmos enfatizam, essas três fases se superpõem em diversos momentos sendo difícil precisar as linhas que a separam.
Utilizamos entrevistas com questionários de perguntas abertas para que pudéssemos conhecer o ponto de vista dos envolvidos. Fomos a campo para coletarmos dados referentes ao tema abordado usando a observação. Foi construído um diário de campo onde registrávamos ações que pudessem enriquecer nosso trabalho.

3      REFERENCIAL TEÓRICO
Por ser um tema sócio-político educacional, existem muitos autores interessados em discuti-lo e compreendê-lo, assim, nossa pesquisa bibliográfica será baseada em Camacho e Abramovay que realizaram pesquisas em nosso estado. Já Debarbieux foi escolhido por corroborarmos com suas idéias sobre as causas de violência escolar, bem como por ser um dos precursores desta problemática. E, Candau por revelar-nos os condicionantes sociais que geram a violência escolar.
O fenômeno da violência não é restrita a uma determinada classe social, etnia, condição social, gênero, ou qualquer outra vinculação desta natureza, pois este ato é algo presente na sociedade, não se restringe a uma época ou a um segmento social. Atinge direta ou indiretamente a todas as camadas sociais, porém, uma reflexão sobre a construção da população brasileira nos revela a irrelevância das condições sociais que são fortemente marcadas pelas desigualdades sociais.  (Camacho, 2001, p. 171)
Debarbieux (1998) acredita que a violência que ocorre dentro das escolas está interligada com a grande falta de confiança nas instituições e a ausência do sentimento de cidadania gerando os comportamentos socialmente não aceitáveis e que precisam ser refletidos.
Segundo Abramovay (2002), a violência no contexto educacional é também o reflexo da visão dos alunos sobre a escola, pois, mesmo ela sendo um espaço para aprendizagem, em que os alunos recebem informações necessárias para sua formação enquanto cidadão, e inserir-se na sociedade e no mercado de trabalho, por outro lado, eles acreditam que a mesma possui uma política subjetiva de exclusão social, disseminando a violência física, moral e simbólica.
Candau (1999:55) apresenta algumas reflexões sobre as manifestações de violência no cotidiano escolar, abrindo uma oportunidade de conversar sobre suas causas, e possibilidades de como trabalhar com o tema de forma cidadã e democrática.
Fazendo um breve histórico da violência da sociedade brasileira, retomando os fatos da nossa memória, vimos que, a história da formação do nosso povo inicia-se com a escravidão gerando comportamentos de servidão, de mando e de submissão, em que o indivíduo é desrespeitado na sua condição fundamental de pessoa humana e tratado como "objeto" de manipulação dos seus "proprietários".
 Adorno (1994) chama a atenção para o fato de que, durante o período monárquico, a sociedade resolvia os seus conflitos relacionados à propriedade, ao monopólio do poder, e à raça, utilizando, de um modo geral, o emprego da violência.
O autor aponta que ao longo da história do nosso país, o que se tem observado é que mesmo com a implantação do regime republicano, cujo fundamento básico é o bem comum e o bem público a todos os cidadãos, esse quadro de violência pouco se modificou. Até porque no campo político temos convivido com várias alternâncias de regimes autoritários, ditatoriais, que implodiram o direito de liberdade dos indivíduos. Estes foram períodos que trouxeram elevados custos à convivência democrática do nosso povo, com violações do direito à vida e inúmeras mutilações físicas.
Ainda o autor, diz que a sociedade brasileira é organizada por um modelo econômico capitalista extremamente excludente. É a sociedade do mundo capitalista que valoriza, essencialmente, o consumo, as coisas materiais, a aparência em detrimento da essência da pessoa humana. Ocorre um desvirtuamento do significado de ser gente, ser sujeito, ser pessoa. Valores como solidariedade, humildade, companheirismo, respeito, tolerância são pouco estimulados nas práticas de convivência social, quer seja na família, na escola, no trabalho ou em locais de lazer. A inexistência dessas práticas dá lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância.
A violência perpassa as diferentes relações sociais e aparece de forma explícita nos meios de comunicação de massa, principalmente na mídia televisiva. São vários os programas que enfatizam e reproduzem, com veemência, atos de violência que acontecem freqüentemente nas sociedades em geral. Além disso, a televisão comumente apresenta programas com "brincadeiras" desrespeitosas em que os indivíduos são usados como objeto sarcástico e os programas infantis não fogem a essa conotação violenta.
Na verdade a escola também reflete o modelo violento de convivência social. E o mais grave é que muitos educadores não se reconhecem como violadores dos direitos dos alunos. É o que podemos chamar de violência simbólica, que segundo Whitaker (1994), ajuda não só a obscurecer a violência que está no dia-a-dia, no cotidiano, como também a esconder suas verdadeiras causas. É a violência sutil que, em geral, não aparece de forma tão explícita e serve para escamotear e dissimular os conflitos.
A autora ainda chama a atenção porque muitas vezes,
[...] os professores não se dão conta de que o que torna as crianças apáticas, não são propriamente os conteúdos ministrados, mas sim o ponto de partida da ação pedagógica que se apresenta carregado de autoritarismo e, portanto, de violência simbólica. Whitaker (1994, p.39).
Em relação à violência urbana e escolar, esta visão da escola enquanto espaço de violência é destacada pelos alunos, e estes exemplificam como esta se manifesta: "quando o professor fala: este aluno está ferrado comigo" (isto porque o aluno era indisciplinado), ou então, "este aluno não quer nada com a escola e por mim está reprovado". O mais interessante é que os professores não vêem estas formas de relacionamento com os alunos como desrespeitosas ou violentas. Para estes, a violência na escola aparece, basicamente, na relação entre os alunos e destes para com o professor. É como se o professor pudesse ficar isento de tais práticas, mas, na verdade, todos nós somos produtos do conjunto das relações sociais de uma determinada sociedade da qual fazemos parte. Daí, a importância de termos conhecimento de como essas relações são produzidas para podermos pensar em alternativas de superação e é o que justamente o PROJETO COLORIR tenta destacar em suas ações educacionais, principalmente em escolas públicas que são alvos constantes de ameaças, vandalismos e violências.
 No entanto, temos uma antagônica idéia de que a mesma é um local de proteção. Antigamente era muito comum os pais de alunos não se preocuparem com seus filhos enquanto eles estavam na escola. Esta é uma realidade que ficou para traz e hoje ao mesmo tempo em que dependemos do ambiente escolar, sofremos com o medo de sermos a qualquer instante violentado, seja por meio de atos, gestos, palavras, abusos, dentre outros. Por esta razão que as instituições atualmente vem se transformando em verdadeiras prisões, em termos de aparência física, cercada de muros altos, grades de ferros e vigias no portão. As escolas perdem sua identidade de um local feliz e ganham novos olhares.
 Em uma pesquisa realizada pela UNESCO[2] nos mostra a difícil realidade das escolas brasileiras ao enfrentamento da violência. É notório que o universo escolar é marcado por uma vertente principal que é a exclusão social. Mediante a esta afirmação tomamos com referência Abramovay (2002,p.24) apud (Debarbieux,1998), que traz uma grande contribuição para a compreensão deste tema ao falar sobre as incivilidades, que nada mais é do que as violências anti-sociais e antiescolares ocorridas na convivência social. O autor afirma que: Abramovay (2003:9) apud (Debarbieux, 1998) que,
[...] um dos efeitos de proliferação e da repetição dos atos de incivilidades é a instauração de um sentimento de abandono do espaço púbico e de impunidades, ao mesmo tempo em que as vítimas das incivilidades sentem-se desprotegidas, estimulando a falta de cidadania, o que pode levá-las a deserdar de espaços coletivos (como as escolas). Assim podendo ser porta de uma violência mais brutal.
Os atos de violência que ocorrem no interior da escola têm uma relação com o próprio fazer da escola. Ao dar concreticidade a sua tarefa de ensinar ela toma atitudes que acabam por gerar a violência, pois ao combatê-la também a utiliza fazendo assim, movimentar este círculo.
Por outro lado, não podemos tapar nossos ouvidos para as formas também sutis em que os profissionais da escola são vítimas da violência. Sabemos que a formação recebida para o exercício da função, por melhor que tenha sido não dá conta de preparar para o exercício profissional em uma sociedade que sofrem tantas transformações.
Todas essas mudanças na sociedade trazem o seu reflexo para a instituição escolar. Assim, é evidente que as evoluções do mundo conseguem reduzir o espaço social da família nas sociedades e tirou-lhe, conseqüentemente, o poder de controle sobre os seus membros.
Desta forma, os alunos que chegam à escola trazem consigo o reflexo deste "abandono" familiar e um comportamento resultante da influência de uma variedade de fatores que vão desde o da família e passam pela vizinhança, ainda são fortemente marcados pela mídia, em especial, a televisão.
É comum vermos professores se sentirem agredidos com um determinado vocabulário que o aluno usa e que, no seu contexto social e familiar é visto com naturalidade.
Ao se organizar para criar mecanismos que impeçam os comportamentos enumerados como violentos a escola acaba por ditar normas e regras de forma isolada dos alunos e da família. Tais regras e normas ao serem impostas já trazem implícita um ato de violência e para fazê-la cumprir outros podem ser gerados. Neste sentido, (Paro, 2001, p.35) afirma que "sem dúvida nenhuma, a principal falha hoje da escola com relação a sua dimensão social parece ser sua omissão na função de educar para a democracia." Consciente da gravidade dos problemas e contradições sociais presentes na sociedade brasileira como injustiça social, violência, criminalidade, corrupção, desemprego, e tantos outros como a história nos tem mostrado, que só tendem agravar-se. O desafio de uma convivência democrática que oportunize a formação de valores e conhecimento capacitando e encorajando os alunos a exercerem ativamente sua cidadania é cada vez maior, requerendo da escola e de seus profissionais uma atitude de reformulação de conceitos e valores e conseqüentemente a reconstrução de suas práticas.
Segundo (Paro ,2001, p.51) é importante,
[...] realizar o seu trabalho buscando "garantir, pela educação desenvolvida na escola, o contato com a ampla, complexa e rica variedade de valores desenvolvidos historicamente, bem como, a apropriação de concepções que apontam para o constante desenvolvimento de novos valores comprometidos com uma sociedade melhor. (PARO; 2001, p 51.).
A humanidade em sua história produz continuamente conhecimentos, valores, crenças, técnicas, tudo o que configura a cultura construída historicamente e que lhe possibilita transcender a necessidade natural e construir uma realidade humano-social.  À educação cabe o papel de possibilitar a apropriação deste saber historicamente construído.
A produção da materialidade de cada ser humano é feita em dependência mútua com os demais seres humanos colocando, portanto, a relevância da relação social. Cada um de nós precisa conviver  com os outros sujeitos sem reduzi-los e reduzir a si mesmo, à condição de objeto. Tornando evidente a necessidade de relações de colaboração entre cada um e todos, uma vivência que dê espaço para o exercício democrático e toda a aprendizagem que ele requer. Para (Paro, 2001, p.52) a escola para dar conta do seu papel precisa,
[...] ser duplamente democrática. Por um lado, porque ela situa-se no campo das relações sociais onde, torna-se ilegítimo o tipo de relação que não seja de cooperação entre os envolvidos. Por outro, porque sendo seu fim a educação e tendo esta um necessário componente democrático, é preciso que exista a coerência entre o objetivo e a mediação que lhe possibilita a realização, posto que fins democráticos não possam ser alcançados de forma autoritária. (PARO, 2001. P.52).
Neste sentido, a escola necessariamente, precisa ser um ambiente mais propício possível à prática da democracia. Assim, a coerência entre meios fins exige que tanto a estrutura didática quanto a organização do trabalho no interior da escola favoreçam as relações democráticas.
Ao estabelecer as relações democráticas como um princípio político a escola irá exercitar um olhar crítico e reflexivo sobre a violência que ocorre no seu interior, objetivando construir com a participação de todos os sujeitos envolvidos uma cultura de paz, de colaboração, de valores e normas que ajudem os alunos a darem um novo significado aos seus hábitos e relações.
 Para que possamos compreender o significado de violência é preciso, atentarmos ao fato de que o termo é multifacetado, incorporados de uma gama de sentido e sentimentos e embora esse fenômeno possua dificuldade conceitual, há um consenso básico. Segundo Abramovay e Rua 2002, “o ato de agressão física, moral ou institucional, dirigido contra um indivíduo é considerado um ato de violência”. A violência está presente no nosso contexto com várias faces, são elas:
Violência estrutural, caracterizada pela desigualdade econômica e social. O alto índice de crianças e adolescentes direta ou indiretamente, ligadas com o narcotráfico, bem como na formação de gangues que aterrorizam a comunidade em geral, afetando os corredores das escolas. De uma emancipação social, a busca de poder.
Violência simbólica que segundo Faleiros (2006:68) apud Bourdieu (1970) é o exercício e a difusão de uma superioridade fundada em mitos, símbolos, imagens, mídia e construções sociais que discriminam, humilham e excluem os mais enfraquecidos economicamente.
Violência institucional, aparentemente ligada aos locais que ela é praticada, escolas, abrigos, hospitais. É manifestada sobre diferentes formas; social, psicológica, sexual, etc. A negligência profissional é um dos grandes motivadores para a manifestação desta.
Violência da negação da existência, a negação e a falta de compromisso com as responsabilidades familiar, comunitária, social e governamental. É a falta de proteção e de cuidado da criança e do adolescente, a não existência de relação amorosa, a falta de reconhecimento e de valorização da criança e do adolescente como sujeitos de direitos. É o desrespeito a suas necessidades e a sua etapa particular de desenvolvimento. Crianças e adolescentes negligenciados vivem, pois, situação de abandono, de privação e de exposição a riscos.
Violência física é uma relação social de poder que se manifesta nas marcas que ficam principalmente no corpo da criança e do adolescente agredido( torturas, privações físicas de comer e beber, restrições de movimentos). Privações de moradia e trabalho forçado e inadequados a idade. Em muitos casos a violência física é praticada pela própria família.
Violência psicológica é muito freqüente e ao mesmo tempo, não tão formalizada como um tipo de violência em função da tolerância da própria sociedade. A violência psicológica tem como manifestação o medo ou represália, oprimindo, desconsiderando as necessidades de desenvolvimento da criança e do adolescente.  É importante dizermos que este tipo de violência ocorre também quando os desejos vocacionais de jovens são “podados” por vontade dos pais.
Violência sexual é o abuso delituoso das crianças e adolescentes, em especial a sua sexualidade, negando inclusive, o direito ao exercício de sua sexualidade em desenvolvimento. Deturpar as relações sócio-afetivas e culturais entre adultos e crianças/ adolescentes, ao transformá-las em relações generalizadas, erotizadas, comerciais, violentas e criminosas.Concluímos assim que a “violência” protagoniza diferentes manifestações, entretanto não perde seu caráter massificador e que se reflete direta ou indiretamente no contexto escolar.
3.1    Condicionantes da Violência EscolarAs causas da violência escolar estão ligadas a fatores externos e internos. Os fatores externos referem-se às causas socioeconômicas. Candau  (1999:20) apud Dimenstein (1997) o aumento do narcotráfico, os novos modelos de famílias desestruturadas, a má distribuição de renda, a falta de emprego, a exclusão social, onde esta ocupa um condicionante, que rompe os laços de solidariedade e respeito ao próximo, são fatores externos que geram a violência.
Acreditamos que estes condicionantes afetam direta ou indiretamente o interior das instituições escolares, sendo as escolas em muitos momentos obrigadas a submeterem-se as imposições do tráfico. Desta forma remetemos nossa reflexão inicial de que as escolas perdem o sentido de local feliz e tornam-se alvo de ameaça para todos que dela fazem parte.
As causas internas estão ligadas ao próprio interior das escolas, aqui tomamos como referência (Gentili:1996), pois o autor apresenta idéias de violência não só por parte da sociedade externa (comunidade), o que é comum se pensar, mas também, a violência gerada nos “bastidores” das escolas.
Assim, também os mesmos profissionais sentem-se esgotados com a falta de incentivo e oprimidos com a falta de respeito e compromisso dos alunos e governo.  Segundo Gentili (1996) isso gera a crise de Burnout[3]. Neste sentido buscamos uma compreensão dos diferentes laços de relacionamento escolar (entre alunos x alunos; professores x professores x outros sujeitos que convivem no espaço escolar).
Laterman (2000:4) apud Debarbieux (1996) destaca que a agressão neste contexto ocorre de forma sutil, onde o desrespeito pelo outro assume um papel de desordem:
Por incivilidade se entenderá uma grande gama de fatos indo da indelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo. As incivilidades mais inofensivas parecem ameaças contra a ordem estabelecida transgredindo os códigos elementares da vida em sociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordem do barulho, sujeira, impolidez, tudo que causa desordem. Não são então necessariamente comportamentos ilegais em seu sentido jurídico, mas infrações à ordem estabelecida, encontradas na vida cotidiana. Elas são, segundo Roche, o elo que falta e que explica a insegurança sentida pelas pessoas, mesmo que elas não foram vítimas de crimes e delitos; mas a vida cotidiana se degrada efetivamente e não imaginariamente. Indo mais além, as incivilidades, pela impressão de desordem que geram, são para os que as sofre a ocasião de um compromisso, uma defesa em causa da organização do mundo. Através delas a violência se torna uma crise de sentido e contra sentido. Elas abrem à idéia do caos. Laterman (2000:4) apud Debarbieux (1996).
O termo incivilidade, é compreendido segundo Debarbieux, como as transgressões no cotidiano, (micro violências), humilhações entre as partes envolvidas e a falta de respeito. O termo então se emprega na primazia dos sentimentos das vítimas, remetendo-se as questões das relações interpessoais. É importante citar que a incivilidade não está relacionada com a violência física, mas sim com a violência moral. Podemos dizer ainda que suas reações sejam tratadas como comportamentos naturais típicos de determinadas fases ou idade.
Laterman (2000:5-7) destaca ainda que um dos agentes responsáveis pelos atos de incivilidades é a apropriação de um sentimento de desvalorização e abandono ao espaço público, onde as próprias vítimas sentem-se desprotegidas. A ausência de um canal de comunicação democrático desperta a ira inicial, entre a direção da escola e equipe pedagógica, gerando problemas administrativos como manutenção e funcionamento inadequado da escola, bem como, a falta do sentimento de cidadania.
Cidadania, segundo Velho (1996, p.14) “imbricada à consolidação de um espaço público onde indivíduos interagem e negociam politicamente”.
Seguimos ainda com esta visão de incivilidade, acoplando as idéias de Candau (1999:33) que destaca as agressões verbais, físicas ou psicológicas sofridas pelos alunos, pelos profissionais da escola, que é caracterizada como uma forma de protesto e resistência ao “mau” professor ou demais funcionários. Conclui-se então que tal violência manifestada é uma forma do aluno construir uma imagem de prestígio e poder diante dos demais.
Para os jovens que têm baixa-estima que não conseguem se vincular com a escola devido aos repetidos fracassos, vandalizar a escola é se apropriar dela e de certo modo vencê-la”. Candau (1999:34) apud Cárdia (1997, p.56).

4      UMA PROPOSTA DE PAZ
Este capítulo vem apresentar o projeto COLORIR, uma proposta de educação para a paz, que cada vez mais vem ampliando seus passos.  A empresa Carboderivados, mantinha uma parceria em auxiliar financeiramente as reformas da “Escola de Ensino Fundamental Serra Dourada”, descontente com as depredações constantes o Engº Ernesto Mosaner Júnior (Diretor Superintendente da Empresa Carboderivados S/A), acreditava que só as reformas do prédio escolar não eram suficientes para a conservação do mesmo, a idéia de preservação deveria partir da conscientização dos próprios usuários.
Assim, após uma conversa com a Consultora Ambiental da empresa Carboderivados S/A, sra.  Erthelviane Bortolozo Nunes, foi contratada uma equipe multidisciplinar para desenvolver um programa de qualidade escolar, que fosse capaz de sensibilizar a todas as pessoas da comunidade escolar a preservarem o espaço pedagógico. Assim a pedagoga Rita de Cássia Castro Fernandes dos Santos e o interventor pedagógico José Eugênio Castro Fernandes, foram convidados a construir, desenvolver e aplicar o projeto COLORIR.
Diante desta proposta de criarem um projeto, de “educação para paz”, a pedagoga Rita Santos e o interventor Eugênio Fernandes, foram pesquisar à campo, para que pudessem ouvir as necessidades do público alvo.
 É importante salientar que por acreditarem em uma educação humanística, buscaram inspirações de Makiguti (2004; p.22-23), que afirma,
[...] o objetivo na educação deve ter origem nas necessidades e no dia a dia dos indivíduos... A felicidade é o objetivo principal da educação, e que todos os planos e programas educacionais devem começar por esta compreensão básica. (MAKIGUTI, 2004, p.22-23)
E a partir desta concepção eles, construíram os setes pilares que sustentam a proposta do projeto: cooperar, organizar, limpar, orientar, reciclar, influenciar e realizar.
4.1    DesenvolvimentoO projeto COLORIR é democraticamente destinado a todas as faixas etárias do Ensino Fundamental, da 1ª a 8ª séries, sendo utilizado recursos variados. Os multiplicadores formam o corpo administrativo, técnico e pedagógico, juntamente aos docentes e discentes.
 As ações e estratégias apontam para complexidade de se estabelecer caminhos possíveis para enfrentar a questão da violência na escola, dependendo especificamente do trabalho pedagógico que se realiza.
Seguindo os parâmetros de uma educação humanística as bases do projeto caracterizam ações que possibilitam uma reestruturação da postura dos envolvidos:
a)1ª etapa – Cooperar. Significa conscientizar os alunos sobre a importância do COOPERAR, fazendo-se perceber o significado real da palavra. Os alunos são envolvidos a participarem de trabalhos de descobertas do histórico da escola, bem como valorizar cada espaço físico que a escola possui através de reflexões feitas em grupo. Os alunos devem fazer um contrato (escrito) sobre está nova postura.
b)2ª etapa – Organizar. Levar os alunos a fazerem uma avaliação dos atos de vandalismos e depredação existentes na escola, os alunos fazem listagem dos itens e espaços quebrados. Esta etapa consistiu ainda em mudança de atitudes mediante as horas e formas de estudar, também foi um dos momentos em que se implantou algumas importantes campanhas do projeto tais como: “ SALA LIMPA TODO DIA” , onde são escolhidos monitores  para verificarem se ao final das aulas as salas de aula estão limpas e organizadas. Alguns alunos também são convidados a organizar a biblioteca e monitorar a freqüência dos alunos. Cartazes de conscientização foram feitos nesta etapa, (juntamente integradas nas aulas de arte) e espalhados pela escola. Produção escrita de como organizar melhor a vida pessoal e coletiva. Incentivo do uso das palavras OBRIGADO, POR FAVOR, DESCULPE-ME, ETC. A segunda etapa consolidou-se em uma apresentação teatral e musical sobre o tema, “batizada” como CAÇA TALENTOS’.
c)3ª etapa – Limpar. Nesta etapa os professores e multiplicadores do projeto levam os alunos à conscientização de limpeza geral, não só no espaço físico, mas também a higiene pessoal foram realizadas palestras sobre a importância e o cuidado com a higiene corporal e bucal, além de aplicação de flúor gratuitamente nos alunos. Um grupo de alunos foi envolvido em uma campanha em torno da comunidade para conscientização da mesma sobre os cuidados com o lixo e como armazená-los de forma adequada, panfletos e instruções foram dadas pelos alunos. A terceira etapa foi encerrada com uma premiação de melhor redação sobre a etapa, os alunos premiados receberam camisetas.
d)4ª etapa – Orientar. Durante as etapas anteriores os alunos foram motivados a aprenderem a Cooperar, Organizar, Limpar e agora, o alvo desta etapa é a orientação, não só dos alunos, mas também da comunidade entorno da escola. O desejo e o objetivo do projeto Colorir, nesta etapa são contemplados de forma a levar os alunos a traçarem metas para seu futuro profissional, alguns ex-alunos foram convidados a irem à escola relatar como era no tempo  em que freqüentavam a escola “ Serra Dourada”, como eles mantinham a conservação do prédio, quais eram as expectativas para o futuro, quais as perspectivas que a escola oferecia, como era o relacionamento entre os membros da escola... Enfim, e hoje como eles estão... Qual foi a importância da escola para a formação desses alunos. E quais as profissões que exercem agora. Os alunos atuais relataram sobre suas expectativas, em relação ao futuro profissional. Uma integração entre alunos e ex-alunos promoveu, além de uma pequena orientação vocacional realizada pelos multiplicadores do projeto, onde os alunos pudessem perceber a importância da escola, uma proposta de feira cultural. No final desta etapa, os alunos foram orientados a construírem “engenhos e engenhocas” sobre o tema “paz nos ambientes de estudo, trabalho e lazer”. A importância desta etapa fortaleceu a imagem de conservação do patrimônio escolar, pois é através dele que os alunos terão condições de se apropriarem de saberes necessários para sua formação enquanto cidadãos críticos. Os mentores do projeto buscaram respaldo na literatura de Paulo Freire (1996:41) para desenvolverem esta etapa.
Uma das tarefas mais importantes da prática educativa - crítico é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos (FREIRE; 1996, p.41).
e)5ª etapa – Reciclar. O objetivo desta etapa é o reaproveitamento dos objetos, evitando o desperdiço. Uma mobilização sobre o tema foi criada, e a escola recebe neste momento latões para coleta seletiva, oficinas foram promovidas e diversas reciclagens foram feitas, transformações de roupa, criação de uma bandeira representando a escola, e uma grande maquete da escola foi construída com materiais reciclados, além de diversas peças confeccionadas com garrafas PET. Os alunos compreenderam a importância da reciclagem não só para natureza, mas também para o próprio consumo. É interessante destacar que um grupo de alunos, construiu um vídeo sobre a escola antes e depois do processo de reciclagem, o fechamento foi realizado com uma exposição aberta à comunidade, para verificação do trabalho realizado.
f)6ª etapa – Influenciar. Etapa em que consolida as ações desenvolvidas anteriormente sob a perceptiva de influenciar a todos os membros da comunidade escolar e a comunidade a qual ela faz parte a preservar o ambiente e o patrimônio escolar. É importante ressaltar que os alunos são incentivados a influenciarem de forma positiva a comunidade e entre eles mesmos o ato de preservação. Foi lançado então um desafio onde os alunos foram “influenciados” a produzirem poesias com temas diversos: PAZ, AMOR, PRESERVAÇÃO, UNIÃO, HARMONIA, COOPERAÇÃO e SOLIDARIEDADE Um grande sarau foi promovido e os alunos puderam apresentar suas poesias. Também foi realizado uma grande campanha de solidariedade e alunos, professores e todos os envolvidos com o projeto, arrecadaram roupas e alimentos não-perecíveis para doarem aos orfanatos e asilos.
g)7ªetapa – Realizar. Foi à culminação da implantação e do desenvolvimento do projeto Colorir. Foi realizado um ato ecumênico aberto ao público para que todos pudessem apreciar a implantação do projeto na escola de ensino fundamental Serra Dourada.
A partir da implantação do projeto, líderes de sala foram treinados e normas e procedimentos relacionados à disciplina escolar foram criados para melhor organização.
Foram colocados em prática também “planos de ações” nos quais gostaríamos de citar as “olimpíadas coloridas” com o envolvimento dos alunos de 1ª a 8ª séries em diversas modalidades esportivas, competindo de forma cooperativa. Temos também a placa da DISCIPLINA COLORIDA - um instrumento que avalia diariamente os atos de vandalismo ou violência na escola, os alunos receberam um manual, que foi construído coletivamente, onde consta como deverá ser a postura deles, assim a placa da disciplina colorida, registra os dias que não houve ocorrências de violência ou depredação contra o imóvel escolar. Caso haja algum registro a placa cai a zero, a conscientização sobre o ato é conversado  coletivamente com os alunos e a partir  daí   a placa é reiniciada.
Em 2005 o projeto COLORIR, integrou-se ao PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola. É importante ressaltar que ele não só contribuiu para a conservação do prédio escolar, mas também diminuiu significativamente a violência no seu entorno.
4.2    Proposta Pedagógica do Projeto ColorirOs objetivos do projeto Colorir visam reduzir as manifestações de vandalismo e violência contra o patrimônio público, sensibilizando o indivíduo quanto ao reconhecimento do imóvel escolar como meio para o seu desenvolvimento, capacitação e espaço para integração social.
Contribuir para a diminuição dos problemas educacionais e inserir os alunos em uma dimensão ética e de cidadania, a fim de formá-los como agentes críticos e transformadores da sociedade, também são propostas sustentadas pelo projeto.
A valorização da escola e a integração comunitária ocorrerão por meio do incentivo à leitura e da escrita, com o propósito de disseminar a “cultura de paz”.
Sendo assim, uma das principais metas do projeto Colorir é oportunizar, através de manifestações artísticas, o desenvolvimento das habilidades e competências dos alunos promovendo a sensibilização da comunidade escolar quanto à importância da comunicação / diálogo para amenizar as diferenças sociais.
Construir e fazer regras de convivência para respeitar as diferenças existentes no convívio social também são metas visando o desenvolvimento no alunado das habilidades de autonomia e na participação em espaços coletivos, desta forma garantindo a participação e envolvimento dos professores no projeto Colorir.
A diversidade e a complexidade do mundo são reflexos de uma sociedade caracterizada pela ausência de referência de cidadania e respeito pelo próximo. A solução desses problemas exige, entre outras ações, uma verdadeira transformação das práticas educacionais.
O projeto Colorir compromissado com o ser humano e visando proporcionar-lhe reflexões sobre o mundo em que vive e sobre si mesmo, propõe oportunizar a todos a construção, de forma participativa, de meios que contribuam para uma prática social mais humana e competente.
A proposta inspira-se na educação humanística do educador japonês Tsunessaburo Makiguti (1871- 1944) autor da “Teoria da Criação de Valores Humanos” encontrada em seu livro “Educação para uma vida criativa”. Ele revela a necessidade do aluno sentir-se feliz na escola e defende que a educação não é uma simples transmissão de conhecimento, mas deve ter o propósito de desenvolver seu potencial e talento.  Propõem ainda, envolver a escola, lar e a sociedade no compromisso pela felicidade. Makiguti (2004:23), diz que,
Para a educação atingir o objetivo de felicidade e realização para todos, precisam transformar a apatia da existência social, alienada e egocêntrica em um comprometimento consciente com a sociedade. A educação pode e deve levar o indivíduo a reconhecer seu comprometimento com a sociedade e o Estado a que pertence, não apenas com relação à satisfação de suas necessidades básicas e da segurança, mas de tudo que constitui felicidade. (MAKIGUTI, 2004; p.23)
A proposta de uma educação humanística propõe uma educação com fortes laços afetivos, onde propicia ao aluno uma aprendizagem que parte do desejo do aluno, o professor não é um mero transmissor de conhecimento, mas é um incentivador da busca pelo conhecimento.
A proposta de revitalização da educação nada mais é do que construir hoje a sociedade ideal de amanhã, através do planejamento do desenvolvimento dos recursos humanos. O artista trabalha a tela ou o mármore e cria uma beleza nova; o fabricante transforma matérias primas em produtos úteis, da mesma forma, o educador deve fazer um levantamento das falhas da sociedade contemporânea e organizar programas com o objetivo de possibilitar um mundo melhor para as gerações futuras.
Desta forma, o Projeto Colorir possibilita ao aluno uma educação embasada em valores e preceitos motivadores, respeitando as diferenças e promovendo o diálogo aberto na resolução de conflitos.
Aos pais a alegria de verem seus filhos participando ativamente das atividades desenvolvidas na escola. Atividades essas que resgatam a auto-estima, fortalecendo e valorizando a educação como meio de desenvolvimento pessoal e social e para a escola a oportunidade de elevar sua qualidade de ensino, aumentando o nível de satisfação de toda comunidade escolar, contribuindo para a melhoria das relações interpessoais além da conservação do prédio.

5      O PROJETO COLORIR NA VOZ DOS PRINCIPAIS ATORES
Para compreendermos melhor a proposta e as realizações do projeto Colorir, fomos à campo, ouvir os principais atores, nossa intenção com esta etapa é comprovar como ele é visto e entendido, bem como se as suas ações correspondem com a realidade diária da vida escolar. Buscamos de forma simples “ouvir” os envolvidos e esclarecer os desafios que o projeto trouxe para a escola “Serra Dourada”.
Aqui é possível compreender e analisar o reflexo das ações desenvolvidas com o projeto Colorir. Apresentamos um questionário com perguntas abertas para que o sujeito em análise pudesse expressar de fato sua opinião. Abaixo estão relacionadas às respostas dos principais atores em seus diferentes papéis.
A seleção destes entrevistados foi baseada na participação e grau de envolvimento. Escolhemos o corpo técnico pedagógico porque acreditamos que suas opiniões são cruciais para a conclusão desta pesquisa, mas também procuramos detectar como eles encaram este desafio, que a principio foi um objeto desconhecido de todos. Escolhemos os alunos a partir do desempenho e participação, procuramos ouvir aqueles que realmente acreditam e fazem à diferença na realização do projeto.
1)Como foi para você a implantação do projeto Colorir?
Professor 1 – Foi muito bem aceito. Antes do Projeto a escola tinha um nível de violência muito grande, e também em relação ao patrimônio havia a depredação que era grande. Com a implantação do projeto, houve uma conscientização e com isto houve melhoria de todos, inclusive da própria comunidade.
Professor 2 – Difícil, principalmente por se tratar de uma visão empresarial, que vinha de fora, para ser construída na escola (em parceria com o projeto colorir). A visão educacional foi canalizada através dos pedagogos e do PPP.
Professor 3 – Foi uma coisa muito bacana, porque o Projeto Colorir  veio para inovar, trazer novas perspectivas, possibilitou o envolvimento de todos os funcionários. Trouxe os alunos para mais perto de nós professores, a integração acontece naturalmente.
Diretora – “A implantação de o Projeto Colorir aconteceu no 2º semestre de 2003, apesar da escola ter se preparado para este momento contamos com alguns imprevistos. A aceitação foi espontânea, pois a escola através de diagnósticos feita com a comunidade escolar (professores, alunos, pais e etc.) na construção da proposta pedagógica conclui que teríamos que resgatar em nossos alunos o gostar pela escola, o respeito ao patrimônio público e a necessidade de uma mudança de comportamento”.
Aluno 1 – “Muito bom, por que o projeto colorir trouxe muita coisa boas para todos, e que deu um grande exemplo de vida para mim. O projeto ajudou a escola desenvolver, trouxe várias coisas boas e principalmente ajudar na educação dos alunos”.
Aluno 2 – “Muito bom, porque não só influenciou a parte física da escola mais também nos alunos. Não adianta reforma a escola sendo que os  alunos não colaboram por uma escola melhor.”
Aluno 3 – “Quando foi implantado eu não estava aqui, sai um ano antes, mas agora percebo que a escola veio se desenvolvendo cada vez mais A educação em nossa escola aumentou, o respeito ao próximo e várias outras coisas. Achei bom, foi uma ótima coisa a vinda do projeto.”
Aluno 4 – “Foi uma experiência bem legal. Por que incentivou os alunos a serem responsáveis e educados. Em certas partes foi uma revolução na educação e no comportamento, e a diminuição da violência. Nós assim podemos corrigir e acertar no tratamento com os semelhantes na escola”.
Aluno 5 – “Boa, ele veio para ajudar os alunos. O projeto colorir deu oportunidade aos alunos para mostrar suas habilidades”.
Pedagoga 1– “Desde o início eu acreditei, envolvendo toda a comunidade para que a escola se tornasse um lugar mais agradável onde os alunos sentissem prazer de estarem ali, convivendo com os colegas resgatando a auto-estima através de projetos, mutirões, campanhas e acima de tudo amor. Foi sem dúvida um dos primeiros passos em direção a diminuição dos atos de violência”.
Pedagoga 2 – “Foi um enorme desafio e contribuição para a formação de cidadãos conscientes e responsáveis".
Coordenadora – “Foi um projeto bem interessante que nos auxiliou no planejamento das aulas”.Conforme observamos na pergunta 01, os sujeitos respondentes avaliam como positivo a implantação do  projeto e a relevância das ações desenvolvidas.
2)O que mudou na escola em relação à violência, na sua opinião?
Professor 1 – “Muita coisa, com essa parceria/comunidade o respeito ao patrimônio, ao próximo cresceu e com isto os valores foram sendo resgatados”.
Professor 2 – “A violência diminuiu sensivelmente. Os professores não reconhecem isso em sua maioria, pois interpreta agitação como violência”.
Professor 3 – “Mudou bastante, principalmente no que diz respeito a violência quanto ao patrimônio público.
“No Projeto Colorir as crianças se envolve com coisas boas, alegres, legais e isso os deixa mais calmos, participativos, eles aprendem a ter responsabilidade brincando.”
Diretora – “Todos na escola foram capacitados e com a contribuição de todos foi se construindo um espírito de cooperação, solidariedade e resgate de valores até então esquecidos.”
Aluno 1 – “Mudou tudo, pois a escola todos os dias tinha brigas, depredações. Agora esta tudo mudado, com o projeto colorir a violência acabou, a escola ficou mais bonita feliz e legal”.
Aluno 2 – “Eu entrei na escola junto com o projeto por isso não posso falar muito da violência antes do projeto. Mas o que me falam era que a violência era muito maior naquela época”.
Aluno 3 – “Há um tempo atrás, antes do projeto, todos os dias praticamente havia briga na escola. Hoje a violência ainda existe, mais com um número bem menor”.
Aluno 4 – “Tem caído o número de pessoas que tem temperamento explosivo com as pessoas. Com os pedagogos bem preparados conseguimos conter a violência em 80%”.
Aluno 5 – “Diminuiu bastante, porém existem aqueles alunos que não tem jeito”.
Pedagoga 1 – “A EEF Serra Dourada era palco das mais variadas formas de violência. Vidros quebrados, cadeiras danificadas, paredes pichadas e sujas, portas arrombadas, materiais roubados. Isso sem falar na violência que se estabelecia nas relações interpessoais. A falta de respeito de solidariedade e, sobretudo falta de esperança e baixa estima. Com o Projeto Colorir houve o resgate da auto-estima e, sobretudo a construção de uma cultura de paz envolvendo toda a comunidade escolar e seu entorno”.
Pedagoga 2 – "Houve maior conscientização da comunidade escolar sobre a preservação e proteção do meio ambiente".
Coordenadora – "Os alunos passaram a se preocupar com o projeto e evitaram brigar. Respeitavam os colegas e preservaram o ambiente”.Percebemos que o projeto contribuiu para a diminuição da violência escolar, que foi substituída por atividades dinâmicas e interessantes. Tanto o corpo docente, quanto os discentes e comunidade se ocuparam com algo inovador e incentivador, ou seja, não sobrou tempo ocioso.
3)Quais as contribuições do projeto colorir para sua vida?
Professor 1 – “Houve mais estímulo para que aulas ficassem melhores. A cooperação, a solidariedade cresceu. Aconteceram mais trocas de experiências”.
Professor 2 – “Aprendi que os problemas têm sempre solução, se a procurarmos com olhos e ouvidos positivos”.
Professor 3 – “Para minha vida profissional este projeto mostrou que é possível fazer um bom trabalho apesar de alguns contratempos. Quanto à questão pessoal, ele (O Projeto Colorir) visa muito o ser humano. Aí você percebe que existem pessoas tão bacanas que ainda se preocupam muito com o ser humano”.
Diretora – “Sem dúvidas experiências e a oportunidade de compartilhar este aprendizado com educadores, alunos, pais, comunidade em geral e o reconhecimento pelos bons frutos colhidos deste projeto”.
Aluno 1 – “A Rita e o Eugênio são como pais para mim, eles trouxeram a rádio, a TV, eventos super importantes para mim. Eu estou muito feliz e eu quero que o projeto nunca saia da escola”.
Aluno 2 – “Foram, muitas não só na minha mais na de todos os alunos, professores. As aulas ficaram melhores e com mais formas de ensino”.
Aluno 3 – “O projeto colorir contribui não só para minha vida, mas para a de toda comunidade. O projeto vem ensinando aos alunos a crescerem com ética e sendo cidadãos de bem, trabalhadores e honestos”.
Aluno 4 – “Me ensina a ser uma pessoa com responsabilidade (no meu caso nem tanto, porque não entreguei três auditorias), mas eu tenho certeza que posso melhorar nessa área”.
Aluno 5 – “Perdi a vergonha e aprendi a atuar”.
Pedagoga 1 – “A escola se tornou um lugar mais agradável para se trabalhar. Quando a escola faz com que seus alunos se sintam parte integrantes e autores no processo o respeito, a ética, a não – violências se tornam presentes nas atitudes de cada sujeito. Na qualidade das aprendizagens houve uma grande melhoria colocando a escola, como destaque na rede municipal com um índice baixíssimo de evasão e reprovação”.
Pedagoga 2 – "Contribui para a formação crítica, transformadora e responsável pelo ambiente”.
Coordenadora – "Despertar uma maneira cada vez mais agradável de trabalhar. Desenvolver projetos com os temas abordados e perceber que aos poucos conseguimos plantar uma sementinha do respeito da união”.Na pergunta 3, percebemos a motivação profissional e o comprometimento dos alunos. Com o projeto, professores, alunos e comunidade foram contemplados com uma nova perspectiva de vida pacífica.
Em nossas análises, observamos que a paz no ambiente escolar é possível e ações precisam ser desenvolvidas para criá-la. Um exemplo é o caso do Projeto Colorir, que é de iniciativa privada e estruturou-se de forma a abranger as lacunas da escola que geravam a violência. A responsabilidade social não deve ser veiculada ao governo apenas, mas a cada brasileiro que é cidadão.

6      CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é um fenômeno universalmente social, sendo a mesma importante para a emancipação e até mesmo para o próprio desenvolvimento da sociedade, pois é através dela, que todo cidadão recebe “saberes necessários” para o seu desenvolvimento social. Os profissionais que nela atuam são capazes de criar condições para que seus alunos tenham a possibilidade de gozar de aprendizagens ricas e significativas bem como de interagir uns com os outros a fim de que se suas visões sociais fortaleçam até mesmo a própria construção da identidade.
Um ambiente permeado de harmonia e respeito provavelmente gera nos indivíduos que dele fazem parte um comportamento baseado na cultura da paz, que é a grande chave para o relacionamento humano.
A complexidade do termo “violência” como vimos ao longo desta pesquisa é bem amplo e possui sentidos múltiplos. A violência que ocorre no interior das escolas passou a fazer parte do interesse das pessoas por que a mesma vem se transformando em um lugar que já não apresenta mais prestígio como antigamente.
Historicamente a escola perde prestígio e “autoridade” sobre os alunos e membros. Hoje em dia é “comum” a falta de respeito dentro das escolas, em especial nas escolas públicas onde parte da sociedade acredita que pode “mandar e desmandar”, “dar lições de moral” em professores, e achar o que pode e o que não pode dentro da escola.
A indisciplina, a desmotivação, o elevado número de faltas ou até mesmo a má qualidade do ensino são algumas das faces múltiplas em que a violência escolar se apresenta. Isso ocorre em função da falta de estrutura familiar que vem tomando conta dos lares brasileiros, devido à reestruturação familiar que está acontecendo.
A própria desmotivação do corpo docente com relação a estes “enfrentamentos” e até mesmo por melhores salários levam todos a ficarem descontentes com o ambiente escolar.  No entanto se todos tiverem força de vontade de lutar, por melhores realizações na escola é possível mudar o cenário de grande parte das escolas brasileiras, como vimos na proposta do projeto Colorir.
O projeto Colorir tem como resultados de um trabalho que valoriza a escola e seu espaço físico, a parceria e o envolvimento comunitário. No espaço escolar, são geradas possibilidades que valorizam o sujeito já nele integrado. Assim, a construção coletiva de uma cultura de paz está sendo lançada por uma iniciativa privada.
 Recentemente a UNESCO aceitou um desafio de contribuir para esta mudança incentivando uma cultura de paz, basta que cada cidadão ou cidadã, acredite que são possíveis e necessárias as mudanças de atitudes no contexto educacional para que todos possam desfrutar de uma educação verdadeiramente significativa e proveitosa, onde não só alunos aprendem, mas que a comunidade possa interagir-se e formar uma sociedade de valores éticos e morais para a vida social.

7      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1     ABRAMOVAY, Miriam. Escola e violência. Brasília: UNESCO, 2002.
2     ADORNO, Sérgio. Violência: um retrato em branco e preto – In Revista Idéias – nº. 21. São Paulo: FDE, 1994.
3     AZEVEDO, Joanir Gomes de. Alves, Neila Guimarães (org). Formação de professores: possibilidades do imprevisível. Rio de Janeiro: DP &A, 2004.
4     BARROS, Aidil Jesus da Silveira Barros – Fundamentos de Metodologia  - 2. ed. ampliada. São Paulo, Makron Books, 2000.
5     CAMACHO, Thimoteo (organizador). Ensaios sobre violência. Vitória: EDUFES, 2003.
6     FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
7     FALEIROS, Vicente de Paula. Formação de educadores (as) : subsídios para atuar no enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes. Brasília: MEC/SECAD; Florianópolis: UFSC/SEaD, 2006.
8   GENTILI, Pablo; ALENCAR, Chico. Educar na esperança em tempos de desencanto. Petrópolis: Vozes, 2001.
9     GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994.
10  GUIMARÃES, Áurea Maria, 1950 – A dinâmica da violência escolar: conflito e ambigüidade. Campinas: Autores Associados, 1996.
11  LÜDKE, Menga. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas / Menga Lüdke, Marli E.D. A. André. – São Paulo: EPU, 1986.
12  MAKIGUTI, Tsunessaburo, 1871 – 1994 – Educação para uma vida criativa: idéias e propostas de Tsunessaburo Makiguti. Tradução de Eliane Carpenter. Rio de Janeiro: Record, 2004.
13  PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.
14  REVISTA, Construir Notícias. Educação e Incivilidade. Ano 03 nº. 17. Recife. Julho/Agosto 2004.
15  TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. 1928 – Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
16  UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central. Normalização de Referências: NBR 6023:2002 – Vitória, ES: A Biblioteca, 2006. 63 p.:il.
17  UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central. Normalização e Apresentação de Trabalhos Científicos e Acadêmicos – Vitória, ES: A Biblioteca, 2006. 74 p.:il.
18  VELHO, Gilberto. Cidadania e violência. Rio de Janeiro: URFJ, 1996.
19  WHITAKER, Dulce. Violência na Escola – In Revistas Idéias – nº 21. São Paulo: FDE, 1994.

[2]  UNESCO (ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS, PARA A EDUCAÇÃO, A CIENCIA E A CULTURA).
[3]  BURNOUT – Síndrome da desistência é uma reação à tensão emocional. 

 

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