O papel político e pedagógico do professor frente à realidade educacional brasileira - por José Eugênio Castro Fernandes
Publicado: 30 de Maio de 2012
INTRODUÇÃO:
Ao se tratar da temática: educação será necessário entender que ela é exercida num dado momento histórico, que devemos conhecer o passado para buscarmos compreender o futuro. A realidade social, política e econômica responde pela organização da sociedade, pelas relações estabelecidas e pela interferência na organização da educação e as transformações e adaptações vivenciadas por seus principais atores.
Conhecer o papel do professor diante desta realidade é desvendar o mais profundo do “Ser Professor”, sendo assim, esta pesquisa sugere uma reflexão sobre o papel político-pedagógico do professor diante da realidade brasileira.
DESENVOLVIMENTO:
Quando nos deparamos com a realidade educacional brasileira, imaginamos um grande jogo de quebra-cabeça, com milhares de peças espalhadas e até perdidas, estamos querendo solucionar os problemas, mas parecem inatingíveis. É um eterno tentar. Encontrar as peças certas é um desafio. A procura da resolução dos problemas educacionais brasileiros parece sempre ser paliativo e nunca solucionável, talvez falte vontade política de fazê-lo.
Nossas legislações parecem ás pequenas peças do quebra-cabeça, com suas fendas encaixáveis ou não, sendo colocadas onde for mais conveniente. Nossa vontade quanto educador seria a de procurarmos as peças corretas, com o objetivo de chegarmos a realização, ao inteiro, ao completo, a obra final.
Mas, para se ter uma educação de qualidade não deveria ser criadas peças tão irregulares, ou encaixáveis quando lhes conviessem. É necessário algo concreto e possível. Preferiria pintar um quadro completo com tintas e marcas vivas, do que ficar montando um quebra-cabeça que nos resultará em uma obra toda cheia de encaixes e imperfeições.
A educação brasileira é fruto do contexto histórico que passa por transformações geradas pela política, economia e sociedade no momento vivido. Nossa educação esteve ao longo da história, sendo montada por diversas “peças” ou tendências que ficaram conhecidas como: tradicionais, positivistas, liberais e hoje se fala de uma educação crítica.
Diferente do liberalismo, que possuía uma crença ingênua de que a educação poderia mudar a sociedade, e do marxismo, para quem a escola era apenas um tabuleiro sendo dominado por classes dominantes temos a tendência crítica que nasceu da influência marxista e que vê a educação como neutra, ou seja, a educação pode ajudar a transformar pessoas em sujeitos da história, ou melhor, da sua própria história.
E neste grande quebra-cabeça da educação encontra-se a figura do professor que desempenha diversos papéis, porém nunca se cansa de tentar solucionar, nunca se cansa de se ver realizado em sua profissão. E surge então um questionamento em que contexto se encontra hoje o professor na execução de seu papel político-pedagógico diante da realidade brasileira educacional?
Seria necessário entender o que é exercer um papel político-pedagógico, qual seu verdadeiro papel frente a educação? O conceito sociológico é bastante diversificado. Como afirmou Hoyle (1969:36), ele implica em ter status, um padrão de comportamento e um padrão de expectativas sociais.
Fazendo um paralelo com as diversas linguagens de aprendizagem que nos foram oferecidas para ampliar nossos conhecimentos a respeito da realidade educacional brasileira, vejo que no documentário “Pra que serve a escola?”, retrata a realidade vivida por muitos brasileiros, é significativo o número de pessoas simples ou escolarizadas que tem em seu discurso uma conotação ruim da figura do professor e o responsabilizam por não verem em seus filhos o brilho nos olhos quando vão à escola, pois acredita-se nestes casos que a aprendizagem não foi significativa.
O aluno sem motivação não se empenha, ou como se refere Lima et. al (2002:10)[2] “para que a aprendizagem se realize de forma consistente e duradoura, é necessário que ela seja significativa para o sujeito que aprende. (...) Diante desta realidade vemos que o professor é um sujeito que deve recuperar o status da profissão educador, não um status social de quem sabe tudo, mas uma posição ocupacional específica, o professor deve recuperar o desejo e sua identidade como educador, vindo de encontro com o que pensa o pensador e psicanalista Lacan:
O discurso do ser supõe que o ser seja, e é o que o mantém. Trata-se de mostrar onde vai sua informação, dessa metalinguagem que não há e que faço existir. É assim que se abre essa espécie de verdade, a única que nos é acessível, e que recai, por exemplo, sobre o não saber fazer. (Lacan. 1982: 162).
Com base na afirmação do autor, acredita-se que o professor deve estimular e conduzir seus alunos, para que neste processo, ele possa redescobrir seu verdadeiro papel.
Diante da perda da identidade como professor, houve uma falência da transmissão da relação professor x aluno, ficando o professor não mais acreditando que pode ensinar e o aluno que pode aprender, pois a referência do professor foi perdida. Ainda Lacan afirma que: “A referência só vai ser estabelecida quando o professor se sentir “Ser Professor”. Desta maneira indo de encontro com DELORS (2001: p.152):
“Os professores têm papel determinante na formação de atitudes – positivas ou negativas – perante o estudo. Devem despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da educação formal e da educação permanente”.
Outras linguagens de aprendizagem como os filmes “Pro dia Nascer Feliz” e “Orquestra dos meninos” nos fazem refletir sobre este mesmo papel que exige do professor um padrão de comportamento ético e a um padrão de expectativa quanto o que a sociedade espera do educador, no primeiro curta temos a figura de uma menina chamada Valéria que se diz não acreditada pelo seu professor em suas produções literárias. Será que da cidade de Manari não pode sair uma grande poetiza? Uma grande escritora? E se existe tal educação que foi significativa para a menina é sinal de que algum personagem, um bom professor exerceu bem sua função de estimular as competências e habilidades a tal ponto de que no meio daquele sertão existe uma menina que ama ler e que cita autores famosos e clássicos com tal intimidade que intimida muitos de nós universitários.
E o professor que de uma educação informal, em um galinheiro fez uma orquestra? Será que é preciso afirmar o papel pedagógico de tal professor que tirou som de panelas? A criatividade unida ao papel político do professor que exercia com dignidade e credibilidade seu papel, fez surgir a tão famosa educação crítica. Serve também como referência a nós professores que através de seus exemplos acabamos refletindo a nossa docência como pensa a autora e Professora Dias (2007, p.169) “Descobrir o que é ser professor, na perspectiva do outro professor, talvez seja a chance de refletirmos sobre a importância do processo educativo[...]”. E neste processo os alunos sabiam que estavam num galinheiro aprendendo a tocar um instrumento, porém existia dentro deles o desejo de mudar, e de que aquela realidade vivida naquela cidade ou comunidade não era tudo o que podiam conquistar, existia muito mais.
Diante de tantos personagens que conhecemos finalmente chegamos a leitura da carta de Paulo Freire aos educadores que em apenas algumas palavras quero resumir, o professor têm que aprender a aprender. Para ele a escola exerce uma função inovadora, já que o professor tem uma autonomia. Desta forma o educador exercerá o seu papel político-pedagógico destacado, já que como vimos anteriormente não existe neutralidade na educação. Como disse Freire (1996,1997): “A educação que apenas depositar conhecimentos no aluno é monológica, ou seja, unidirecional, do professor para o aluno. Isto pode conduzir à opressão, porque nelas os estudantes se tornam objetos e não sujeitos da aprendizagem”.
A educação crítica pode transformar a vida de muitas pessoas, pois ela direciona os indivíduos a tomadas de decisões e a responsabilidade social e política. Paulo Freire não só apresentou propostas, mas colocou em prática em vários países. A educação crítica freireana acredita que se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a escola pode fazer, como se refere CORTELA (1998).
Acredita-se que existam algumas peças chaves deste quebra-cabeça que podem ser o caminho para o qual, o papel político-pedagógico do professor venha de encontro com a realidade da educação brasileira e que podem estar presentes na prática destes conceitos como: a transversalidade sendo debatida dentro da sala de aulas, temas como ética, orientação sexual; o multiculturalismo, ou seja, respeitando e resgatando a cultura local e regional onde o professor estiver inserido; a interdisciplinaridade que ajudará no dinamismo das aulas integrando as disciplinas numa direção temática, ensinando a ver o todo e não fracionado e a alquimia dos conhecimentos agrupando o cognitivo, emocional e afetivo. E tudo isto empregando forças na construção de um projeto político pedagógico escrito e vivenciado a muitas mãos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Nesta luta épica, cujo cenário principal é a escola e os atores principais são os profissionais de educação, estão em jogo os bens mais preciosos da humanidade: o respeito as diferenças, a tolerância, a dignidade e principalmente nossa missão como educador. Para que essa batalha tenha um final feliz, devemos nos esforçar dando continuidade aos nossos estudos, aprimorando nossa prática, fortalecendo nossos guerreiros “alunos”: exigindo políticas públicas e privadas que disponibilizem recursos significativos para a formação intelectual, técnica e pessoal de nossos educadores, para que possam resgatar sua verdadeira essência, “professor” e de seu papel político-pedagógico frente a realidade brasileira.
REFERÊNCIAS:
LACAN, J. O seminário, livro 20. Mais ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982.
___. O seminário, livro VIII: a transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 1992.
CORTELLA, Mario Sergio. Repensando o envelhecer: entre o mito e a razão. A Terceira Idade, São Paulo, v. 10, n. 13, p. 07-29, 1998.
DELORS, Jacques et al. EDUCAÇÃO: um tesouro a descobrir. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
CAMPOS, Judas Tadeu de. Paulo Freire e as Novas tendências da Educação. In: Revista E-Curriculum. São Paulo, v.3, n.1, dez. 2007.
RUIZ, Maria José Ferreira. O papel social do professor: uma contribuição da filosofia da educação e do pensamento freireano à formação do professor. In: Revista Iberoamericana de educación. Londrina, nº 33, p. 55-70, 2003.
GENTILI, Pablo e ALENCAR, Chico. Educar na esperança em tempos de desencanto. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001.
GIANCATERINO, Roberto. Escola, Professor, Aluno... Os participantes do processo educacional. São Paulo: Editora Madras, 2007.
BLANCHARD, Mercedes e MUZÁS, Mª Dolores. Propostas Metodológicas para professores reflexivos – Como trabalhar com a diversidade em sala de aula. São Paulo: Editora Paulinas, 2008.
YOUTUBE - Trecho do Filme-documentário “Pro Dia Nascer Feliz”. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=mBY7ISZKZdw.Acesso em set. 2010.
YOUTUBE – Trecho do Filme-documentário “A escola serve para que?”. Disponível em:
www.youtube.com/watch?v=3JZzSed3loM&feature=related. Acesso em set. 2010.
YOUTUBE - Entrevista do Programa Almanaque com Mozart Vieira sobre o filme “Orquestra dos Meninos”. Disponível em:www.youtube.com/watch?v=yFMK_qeuD2o&feature=related. Acesso em set. 2010.
SCIELO - Texto “Carta de Paulo Freire aos Professores”. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200013?=pt. Acesso em set. 2010.